sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vulcões

Pode-se prever uma erupção vulcânica?

Quando um vulcão entra em atividade, o alarme é imediato. Historicamente, erupções são associadas a grandes tragédias. Mas elas não poderiam ser detectadas previamente, evitando piores consequências? Uma especialista responde.
Por: Marcia Ernesto
Publicado em 03/06/2010 | Atualizado em 03/06/2010
 Pode-se prever uma erupção vulcânica?
O vulcão Soufrière Hills, na ilha Montserrat, no Caribe, no registro feito em outubro de 2009 pela equipe a bordo da Estação Espacial Internacional (foto: Nasa – CC BY-NC).
[Pergunta enviada por Bruno Cidano, por correio eletrônico]
Apesar da grande preocupação e do empenho dos vulcanólogos, ainda não é possível prever exatamente quando ocorrerá uma erupção vulcânica. Entretanto, alguns sinais podem ser indicativos de alguma atividade próxima.
Antes de uma erupção, o magma se concentra em áreas abaixo do vulcão, chamadas reservatórios, onde ele se move produzindo vibrações, ou seja, pequenos terremotos. Esse mesmo movimento pode provocar o desabamento das encostas do cone vulcânico. À medida que o magma se aproxima da superfície, libera gases que podem ser detectados em regiões próximas do vulcão.
Como os vulcões entram em atividade em intervalos de centenas a milhares de anos, eles não são continuamente monitorados
A análise desses gases permite verificar se há variação na sua quantidade e composição. O movimento do magma, porém, pode não resultar em erupção. Ao invés disso, ele pode esfriar e se solidificar na subsuperfície.
Como os vulcões, em geral, entram em atividade em intervalos de centenas a milhares de anos, eles não são continuamente monitorados, mesmo porque essa prática envolve alto custo e nem sempre se repete o mesmo padrão em diferentes erupções.
No entanto, quando o vulcão emite indícios precursores, é possível evitar que ocorra uma grande catástrofe.


Marcia Ernesto
Departamento de Geofísica,
Universidade de São Paulo
Ciências Hoje

sábado, 5 de junho de 2010

Tesouro em alto-mar


Expedição a ilha brasileira encontra peixe desconhecido pela ciência e mostra como se descobrem espécies
Por: Sofia Moutinho, Instituto Ciência Hoje/RJ.
Publicado em 01/06/2010 | Atualizado em 01/06/2010
A espécie de peixe descoberta por cientistas brasileiros (foto: João Luiz Gasparini).
Foram três dias de viagem de barco até as ilhas brasileiras mais distantes do litoral. A pouco mais de mil quilômetros da costa do Espírito Santo, no arquipélago de Trindade e Martim Vaz, uma expedição de biólogos brasileiros descobriu um tesouro. Um baú cheio de moedas de ouro? Nada disso: uma nova espécie de peixe! Colorido de verde com pintas vermelhas, ele foi batizado de Halichoeres rubrovirens, que, em latim, significa vermelho e verde.

Não foi a primeira vez que os pesquisadores viajaram até as ilhas em busca de novas espécies. O biólogo João Luiz Gasparini, integrante da equipe, conta que essa foi a sétima expedição que fez à Ilha da Trindade e que em todas descobriu ao menos um nova espécie. Será que ele tem uma sorte enorme ou há algo de especial nessa ilha?

A explicação é simples. Trindade é uma ilha isolada, que fica no meio do oceano Atlântico. Por isso, tem muita chance de abrigar espécies que nunca foram vistas pelo ser humano. “A gente já sabia que não tinha havido muitas pesquisas com peixes na ilha e, por essa razão, a probabilidade de encontrar espécies não descritas lá é alta”, conta João.
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A Ilha da Trindade fica a mais de mil quilômetros da costa do Espírito Santo (foto: João Luiz Gasparini).

Colorido que atrai a atenção

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O colorido da espécie chamou a atenção dos biólogos (foto: João Luiz Gasparini).
O peixinho encontrado se parece com outros do mesmo gênero, mas o seu colorido foi o que chamou a atenção da equipe. “A gente já tem olho clínico para identificar quando vê uma espécie diferente e peixe com aquele padrão de cor eu nunca tinha visto”, conta João. Para desenvolver essa habilidade, é preciso conhecer bem as outras espécies já descritas. Por isso, em qualquer expedição, o biólogo leva na bagagem vários textos e catálogos sobre espécies para consulta.

Por falar em bagagem, antes de partir em viagem, o pesquisador precisa verificar se não esqueceu nenhum equipamento. Câmeras fotográficas com pilhas extras e lanternas são fundamentais para o trabalho de campo. “Qualquer biólogo tem que ter muito cuidado com o equipamento e sempre levar reservas porque se você esquece alguma coisa, ainda mais em uma ilha isolada, não vai ter nenhuma lojinha por perto para te ajudar”, explica o pesquisador.

Nos mínimos detalhes

Organizar uma expedição em busca de novas espécies não é fácil. É preciso pensar em tudo, desde a roupa adequada para levar na mala, até o lugar onde a equipe vai dormir. No caso da Ilha da Trindade, a equipe contou com o apoio da Marinha do Brasil, que tem acomodações especiais para pesquisadores. “Se não fosse a ajuda dos militares, a gente teria que alugar um veleiro e passar a noite no mar”, conta João.
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Os biólogos da expedição precisaram fazer um treinamento de mergulho (foto: Osmar Luiz Jr.).
As dificuldades variam de acordo com o tipo de espécie que se procura. Como essa expedição foi debaixo d’água, todos os integrantes da equipe receberam treinamento de mergulho. “Para evitar acidentes, ninguém podia dar uma de super-herói e nadar mais fundo do que consegue, pois resgatar uma pessoa na ilha é difícil e perigoso”.

Da natureza para o laboratório

Depois de se aventurar na natureza em busca de uma nova espécie, os biólogos precisam verificar se ela é realmente uma novidade. Para isso, coletam amostras para descrever. A equipe de João não fez diferente: pegou alguns peixinhos e tratou com formol para estudar em laboratório.

Nessa fase do trabalho, é preciso paciência! Os biólogos tiveram que descrever em detalhes a espécie coletada. Contaram escama por escama, espinha por espinha, além de medir cada parte do corpo para comparar com outros peixes parecidos. Mas foi a análise do DNA - código encontrado em todas as células de um ser vivo e que define as suas características físicas - que comprovou que a espécie era desconhecida pela ciência.
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A espécie 'Stegastes trindadesnsis' foi descoberta em 2008 na Ilha da Trindade (foto: João Luiz Gasparini).
Viu como descobrir uma nova espécie é trabalhoso? Pois saiba que, depois de tudo isso, os cientistas ainda pegam as amostras que coletam e depositam em uma coleção científica. Ou seja, a colocam à disposição de outros estudiosos em um museu ou instituição de pesquisa. Desse modo, todos podem ter acesso às informações sobre a descoberta sem precisar de mais expedições!

Sofia Moutinho
Instituto Ciência Hoje/RJ.