sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ancestral do HIV tem pelo menos 32 mil anos, diz estudo


Pesquisadores investigam o surgimento do vírus no símios para entender como ele se transferiu aos humanos

The New York Times
Gorilas no parque nacional de Virunga, na República Democrática do Congo
Gorilas no parque nacional de Virunga, na República Democrática do Congo (Brent Stirton/Staff/Getty)
Numa descoberta que lança nova luz sobre a história da Aids, cientistas descobriram evidências de que o ancestral do vírus que causa a doença tem ocorrido em macacos e símios pelo menos há 32 mil anos – e não apenas há algumas centenas de anos, como anteriormente se pensava.

Isso significa que os seres humanos foram expostos muitas vezes ao SIV (o vírus da imunodeficiência em símios), pois caçam macacos há milênios, arriscando a se infectar cada vez que um açougueiro preparava a comida. E essa suposição, por sua vez, complica uma questão que tem atormentado os cientistas que estudam a Aids durante anos: o que aconteceu na África no começo do século 20 para permitir que a doença se transferisse de macacos para humanos, mudando para tornar-se mais facilmente transmissível e, em seguida, explodir como um dos maiores assassinos da história, que já ceifou 25 milhões de vidas até agora?

Entre as teorias dos pesquisadores estão o crescimento das cidades africanas e a proliferação de seringas baratas.

A confirmação de que o vírus é muito antigo ajuda a explicar porque ele infecta quase todos os macacos africanos, que não ficam doentes. Ao longo de gerações, como qualquer doença, mata as vítimas mais vulneráveis, mas os contaminados se adaptam a ela.

A nova pesquisa, publicada na revista Science, foi relativamente simples. Os cientistas testaram 79 macacos de Bioko, uma ilha vulcânica ao largo da costa oeste africana. Boiko era o final de uma península ligada ao continente onde hoje fica Camarões, mas se separou quando o nível do mar subiu, 10 mil anos atrás, no final da última era glacial.

Desde então, seis espécies de macacos evoluíram isolados na ilha, e os cientistas do Centro Nacional de Pesquisas de Primatas, na Louisiana, e outras universidades nos Estados Unidos e na África constataram que quatro espécies tinham membros infectados com o SIV.

As quatro cepas nas quatro espécies são geneticamente muito diferentes – o que significa que provavelmente não vieram de macacos levados para a ilha por humanos em séculos recentes. Mas cada cepa tinha membros infectados dos mesmos quatro gêneros no continente, o que significa que elas existiam antes de Bioko ser isolada.

Sabendo que cada cepa tinha pelo menos 10 mil anos, os cientistas recalcularam o "relógio molecular" do vírus, medindo a velocidade das mutações. Eles acreditam que todas as cepas do SIV que infectam macacos através da África vieram de um ancestral comum, entre 32 mil e 78 mil anos atrás. "Sabia que os dados anteriores não poderiam estar certos, porque o vírus havia se espalhado a partir do Atlântico para o Oceano Índico e para o extremo sul do continente, e não poderia ter feito isso em poucas centenas de anos", disse Preston Marx, virologista do Centro de Primatas.

Beatrice Hahn, virologista da Universidade do Alabama e uma das descobridoras do vírus símio, chamou o estudo de "um documento muito bom", e acrescentou: "Isso é o que pessoas como nós estamos procurando". Métodos anteriores de datação do vírus tinham concluído que ele tinha entre poucas centenas de anos a 2 mil anos "e isso simplesmente não parecia certo", disse Hahn. O vírus ancestral pode ter existido por milhões de anos.


http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/estudo-afirma-que-ancestral-do-hiv-tem-pelo-menos-32-mil-anos