Pesquisadores investigam o surgimento do vírus no símios para entender como ele se transferiu aos humanos
The New York Times
Gorilas no parque nacional de Virunga, na República Democrática do Congo (Brent Stirton/Staff/Getty)
Isso significa que os seres humanos foram expostos muitas vezes ao SIV (o vírus da imunodeficiência em símios), pois caçam macacos há milênios, arriscando a se infectar cada vez que um açougueiro preparava a comida. E essa suposição, por sua vez, complica uma questão que tem atormentado os cientistas que estudam a Aids durante anos: o que aconteceu na África no começo do século 20 para permitir que a doença se transferisse de macacos para humanos, mudando para tornar-se mais facilmente transmissível e, em seguida, explodir como um dos maiores assassinos da história, que já ceifou 25 milhões de vidas até agora?
Entre as teorias dos pesquisadores estão o crescimento das cidades africanas e a proliferação de seringas baratas.
A confirmação de que o vírus é muito antigo ajuda a explicar porque ele infecta quase todos os macacos africanos, que não ficam doentes. Ao longo de gerações, como qualquer doença, mata as vítimas mais vulneráveis, mas os contaminados se adaptam a ela.
A nova pesquisa, publicada na revista Science, foi relativamente simples. Os cientistas testaram 79 macacos de Bioko, uma ilha vulcânica ao largo da costa oeste africana. Boiko era o final de uma península ligada ao continente onde hoje fica Camarões, mas se separou quando o nível do mar subiu, 10 mil anos atrás, no final da última era glacial.
Desde então, seis espécies de macacos evoluíram isolados na ilha, e os cientistas do Centro Nacional de Pesquisas de Primatas, na Louisiana, e outras universidades nos Estados Unidos e na África constataram que quatro espécies tinham membros infectados com o SIV.
As quatro cepas nas quatro espécies são geneticamente muito diferentes – o que significa que provavelmente não vieram de macacos levados para a ilha por humanos em séculos recentes. Mas cada cepa tinha membros infectados dos mesmos quatro gêneros no continente, o que significa que elas existiam antes de Bioko ser isolada.
Sabendo que cada cepa tinha pelo menos 10 mil anos, os cientistas recalcularam o "relógio molecular" do vírus, medindo a velocidade das mutações. Eles acreditam que todas as cepas do SIV que infectam macacos através da África vieram de um ancestral comum, entre 32 mil e 78 mil anos atrás. "Sabia que os dados anteriores não poderiam estar certos, porque o vírus havia se espalhado a partir do Atlântico para o Oceano Índico e para o extremo sul do continente, e não poderia ter feito isso em poucas centenas de anos", disse Preston Marx, virologista do Centro de Primatas.
Beatrice Hahn, virologista da Universidade do Alabama e uma das descobridoras do vírus símio, chamou o estudo de "um documento muito bom", e acrescentou: "Isso é o que pessoas como nós estamos procurando". Métodos anteriores de datação do vírus tinham concluído que ele tinha entre poucas centenas de anos a 2 mil anos "e isso simplesmente não parecia certo", disse Hahn. O vírus ancestral pode ter existido por milhões de anos.
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/estudo-afirma-que-ancestral-do-hiv-tem-pelo-menos-32-mil-anos